Marc Bolan. T.
Rex. Duas lendas do rock britânico, expoentes do glitter
rock. Para os fãs, a única definição
possível de Bolan é chamá-lo de Deus. Dono
de um talentoso imenso, guitarrista de mão cheia, modelo
para as futuras gerações, Bolan teve uma vida cheia
de acidentes e uma morte trágica, em 1977, em um acidente
de carro. Uma de suas últimas apresentações
ao vivo tinha sido dias antes com o velho amigo e fã David
Bowie, em um especial para a televisão britânica.
Um artista tão grande merece uma bio mais detalhada, por
isso farei em quatro partes: falando do início de sua carreira
até o Tyrannosaurus Rex e depois, propriamente, do T. Rex,
quando conhece o sucesso e sua morte.
Bolan nos deixou um legado imenso de grandes canções,
riffs clássicos e um carisma pouco igualado até
hoje.
Quando,
no dia 16 de setembro, Marc Bolan morreu em um acidente de carro
pilotado por sua esposa Gloria, duas semanas antes de completar
30 anos, já não era mais simplesmente um músico.
Havia atingido o status de lenda e foi colocado
no mesmo patamar de John Lennon, Bob Dylan etc. Exagero? Nem um
pouco.
Filho do casal judeu, Simeon
e Phyllis Feld, Mark nasceu no Hackney General Hospital em Londres
e sempre se considerou um gênio desde pequeno.
"Quando
criança me sentia um ser humano superior aos demais e não
conseguia me relacionar com outras pessoas." Isso causou
imensa confusão nas escolas, já que chutava os demais
colegas sem a menor cerimônia e integrou uma gangue chamada
Sharks. Orgulhava-se de ter sido esfaqueado uma vez.
Mark era extremamente criativo
e vivia um mundo particular e um apaixonado por cinema, especialmente
os de ficção científica e de terror. Também
adorava ficar horas e horas ouvindo os discos da família,
especialmente a música "The Ballad of Davey Crockett",
de Bill Hayes. E seria seu velho, Simeon, que marcaria a vida
do filho de forma definitiva. Ao sair para comprar um novo disco
de Bill Hayes, trouxe, por acaso "Rock Around the Clock",
de Bill Haley. Nunca mais o pequeno Marc seria o mesmo.
O amor pela música
foi tanto que aos 8 anos improvisou uma guitarra e pediu um kit
de bateria pros pais. Aos nove, conseguiu um violão de
16 libras, praticamente o mesmo salário que seu velho recebia.
O mundo da música o esperava.
Mark começou a
fazer toda sorte de bicos para levantar uma grana e montar sua
coleção de discos. Aos 12 anos, montou um trio chamado
Susie and The Hula Hoops, onde era baixista. A cantora era Helen
Shapiro, que meses depois deixou o grupo e emplacou duas músicas
em primeiro lugar na parada britânica. Apesar de negar no
futuro, o sucesso da antiga colega foi um sinal que seu futuro
poderia ser igualmente brilhante.
Mark,
que tanto sonhava entrar pro mundo artístico, teve sua
primeira grande chance quando ficou amigo das garotas que faziam
parte do show televisivo Oh, Boy, que era gravado no Hackney Empire.
E foi lá que Mark
se encontrou com um de seus ídolos, Eddie Cochran. E não
só o encontrou, como o garoto de 13 anos teve a sorte de
carregar a guitarra de seu ídolo até a limousine
que o esperava. O jovem futuro candidato à astro contaria
essa história até o dia de sua morte. Seria também
na tour britânica que Cochran teria sua carreira
precocemente interrompida, quando morreu ao lado de seu amigo
Gene Vincent e de sua namorada Sharon Sheely ao caminho do aeroporto
de Londres, após furar o pneu do táxi onde estavam.
O carro derrapou e acabou se chocando com um poste e Eddie morreu
no dia 17 de abril. Um prenúncio???
Aos 13 Mark se apaixonou
pelo estilo de vida dos mods, se tornando um deles. Aos
15 virou modelo fotográfico e virou um "JohnTemple
Boy". Mas ele ainda sonhava com o mundo musical e aos 17
anos, inspirado em Bob Dylan e Donovan, tentou a carreira de folk
singer. Ele tinha agora um nome artístico: Toby Tyler.
Toby conheceu um ator chamado
Allan Warren que se ofereceu para ser seu empresário e
fez o jovem cantor gravar versões para "Blowin' In
The Wind", de Dylan e "You're No Good", de Betty
Everett, que o próprio Dylan havia gravado em seu disco
de estréia. Essa última, inclusive, foi levada até
à EMI, que não se interessou. Toby Tyler morria
e Mark voltaria a usar seu nome de batizado, Mark Feld. Logo,
adotaria Marc, com "c".
Após uma viagem
à França, Marc voltou à Inglaterra, disposto
a ser uma estrela de rock e se trancou por meses escrevendo e
compondo sem parar. Uma dessas canções, era "The
Wizard", que com a ajuda do produtor Jim Economedies, o rendeu
um contrato com a Decca. Quando recebeu as primeiras cópias,
levou um choque. Achando que Feld não era um nome adequado
e sem consultá-lo, a Decca o rebatizou de Marc Bowland.
O fato fez com que proibisse o selo de lançar algo sem
consultá-lo antes. No entanto, Marc gostou da mudança
em novembro de 1965 resolveu encurtar o nome: nascia assim, Marc
Bolan.
A Decca investiu na carreira
do jovem astro, mas Bolan começou a ver que a vida artística
seria bem difícil. Marc lançou um novo single, "The
Third Degree", igualmente um fracasso. E ainda um outro,
"Jasper C. Debussy", até ter seu contrato expirado
e se mudar para a Columbia.
Na Columbia, conheceu o
produtor Simon Napier-Bell. Com seu jeito confiante disse que
seria o próximo grande rock star do planeta. Bell pediu
para ouvir uma demo. Marc disse que não tinha, mas que
poderia tocar algumas músicas para ele ali mesmo. Segundo
Simon, Marc tocou vários números, suficientes para
encherem quatro discos. Após ouvi-lo, pegou o telefone
e tentou agendar algumas horas em estúdio para o jovem
candidato à estrela.
Simon descobria, no entanto,
que Marc era difícil de se conviver. Ele recusava todas
as idéias e achava que apenas sua foto em um pôster
seria suficiente para vendê-lo. Finalmente conseguiu convencê-lo
a colocar um pouco de cordas na música "Hippy Gumbo"
e ofereceu às gravadoras. Nenhuma se interessou.
Simon conseguiu com que
a própria Columbia lançasse pelo selo Parlophone,
em dezembro de 1966. O disco foi massacrado,
mas ainda assim conseguiu aparecer no programa Ready, Steady,
Go! e viu um jovem guitarrista negro chamado Jimi Hendrix
roubar a cena.
Enquanto tentava ajeitar
a carreira de Bolan. Simon Napier-Bell, foi ser produtor de duas
bandas: os Yardbirds, já com o comando do novato Jimmy
Page e o John's Children.
John's
Children havia assinado com a Track, selo de propriedade do The
Who e comandado pelo empresário Kit Lambert.
Após demitirem o
guitarrista Geoff McClelland, Lambert insistiu para ter Bolan
em seu lugar. Simon teve então um cuidadoso papo explicando
ao seu pupilo que se a carreira solo não estava ainda emplacando,
entrar em uma banda poderia ser uma boa opção para
amadurecer ainda mais seu talento. Além disso, era o mesmo
selo de Jimi Hendrix, a quem tanto admirava.
A vida com a banda não
foi fácil. Sempre tímido e recluso, Marc pouco se
socializava com os demais. Enquanto caíam de boca nas drogas
e orgias, Marc, no máximo, tomava um pouco de vinho e ficava
compondo. Outra coisa que o irritava é que ele não
decidia os rumos musicais do grupo. Assim, após três
compactos, deixou o grupo.
Logo após deixar
o grupo, colocou anúncios recrutando músicos para
sua banda. O primeiro a responder foi o baterista de 18 anos,
Steve Turner, que foi convencido a mudar seu nome para Steve Peregrine
Took. Após Steve, Marc convidou um guitarrista de 28 anos
chamado Ben, que sofria de úlcera estomacal. Havia também
outros dois músicos, sendo um deles que fumava um cachimbo
sem parar, mas ninguém consegue se lembrar de quem eram
e não há documentos sobre ele. Até o tal
"Ben" é pouco lembrado.
Marc começou então
a pensar num nome para sua banda. Após pensar em nomes
de ficção científica, achou que seria uma
ótima idéia de batizar o grupo com o dinossauro
mais perigoso e mortal que o mundo havia conhecido, Tyrannosaurus
Rex.
O primeiro show do grupo
no Covent Garden foi um desastre após poucos ensaios. Os
músicos eram horríveis e não se entendiam.
Para piorar, a Track ainda era dona dos instrumentos que Marc
possuía, levando embora sua guitarra e amplificador. E
para não morrer de fome, Steve vendeu sua bateria e comprou
um par de bongôs. O grupo era então o duo, com Marc
num violão e Steve nos tais bongôs. E eles teriam
morrido aí se não fosse a dedicação
de um fã, o DJ John Peel.
Peel os levou para tocar
no Middle Earth onde era o DJ e quando conseguiu um emprego na
Radio One os levou várias vezes ao seu programa e chegaram
inclusive a tocar no primeiro Hyde Park festival, em 1968.
E tudo começaria
a melhorar com a entrada do produtor Tony Visconti. Mas isso é
papo para outra coluna. Um abraço e até a próxima!
Discografia
como Marc Bolan
The Wizard/Beyond The Rising Sun. (novembro
de 1965)
The Third Degree/San Francisco Poet. (junho de 1966)
Hippy Gumbo/Misfit. (dezembro de 1966)
com o John's Children
Desdemona/Remember Thomas A Beckett. (maio
de 1967)
Midsummer's Night Scene/Sara Crazy Child. (julho de 1967)
Come And Play With Me In The Garden/Sara Crazy Child (agosto de
1967)
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