U2 - 1990 a 1991
 

Há uma coluna que está sendo adiada há meses. Mas essa vem essa adiada há mais de dois anos. Nesse período, muita coisa aconteceu e a banda veio ao Brasil e subiu em um trio elétrico com a Ivete Sangalo, o que muito me desgostou. Nem ouvi ainda seu último disco de estúdio. Porém, resolvi voltar a escrever sobre o U2 e reiniciar o trabalho de falar sobre a banda. Há até quem me acuse de não gostar dessa fase, só do anos 80. Tantos e-mails chegaram e poucos compreendem minha relação com o grupo. Enfim... chega de confissão, até porque sou ateu. U2 voltou. E volta na véspera do 47º aniversário de Bono!


1 - Start All Over Again

O sucesso, ah, o sucesso...

- É isso que chamam de sucesso, Bono? Pois então, eu não quero mais isso, cara. Encheu!

A resposta de Larry Mullen mostrava bem o estado de espírito dos integrantes. Eles estavam simplesmente exauridos do frenesi dos anos 80 e da experiência americana com Rattle and Hum.

A banda mais importante dos anos 80 havia se tornado a mais ridicularizada. Suas músicas ganhavam versões de grupos dance, Bono era ridicularizado por causa do seu visual cowboy e sua pretensão em ensinar rock and roll para o mundo. Existia até uma piada corrosiva sobre sua personalidade: "sabe como Bono troca uma lâmpada? Ele sobe numa cadeira, a segura e o mundo gira em sua volta até ela sair."

Por tudo isso, o grupo resolveu que aquilo não daria mais. Não havia como continuar aquilo. O próprio vocalista admitiu sua insatisfação em uma entrevista futura: "tudo estava tão errado que havíamos tornado uma banda cover de nós mesmos. Lembro-me de um show nosso. Estávamos tão cheios, que resolvemos tocar o set-list do final pro começo, só para quebrar a monotonia. E não fez diferença alguma."

Larry relembra a dor que sentia ao levantar de amanhã e ter que cumprir uma rotina estressante: "eu não agüentava mais falar do filme, de minha paixão por Elvis. Cara, eu nem conseguia mais me olhar no espelho! Eu havia resolvido sair do grupo, mas só não fiz isso porque gostava muito de tudo. Mas não suportava mais um show."

E agora, o que faria a maior banda do mundo? Bom, alguns trechos eu citarei o livro de Bill Flanagan, U2 at the End of the World, outras vezes algumas matérias de revistas, televisão e até puxarei pela memória, por isso a mera lembrança não é plágio...

Conta Bill Flanagan, que o U2 resolveu sacudir as traças, em Berlim, no outono de 1990. Bono conduziu banda e todo seu staff para ensaiarem novas composições no legendário estúdio Hansa, onde Bowie, Lou Reed, Iggy Pop e tanta gente gravaram discos históricos.

As brigas começaram logo cedo. Após não terem lugar algum para ficarem, os quatro ficaram jogados em um hotel barato da cidade, que celebrava a entrada nos anos 90 com a Queda do Muro de Berlim.

Mas nada funcionava e os quatro começaram a bater boca. Edge e Bono acusavam Larry e Adam de não fazerem suas lições de casa e os dois rebatiam que não havia lição porque os dois não tinham escrito uma só linha aproveitável. Houve então um tremendo bate-boca do que eles buscavam. Irritado, Bono disse que queria fazer algo na linha Madchester, modernizar o som. Adam exasperou-se. Amante das bandas dance, mandou Bono calar a boca porque a cena inglesa já era passado. Bono disse que ele era um preguiçoso e que não praticava seu instrumento. Adam pegou o baixo, deu a ele e disse: "tome, me mostre uma nova canção. Uma só, e eu trabalharei em cima dele." O cantor, calou-se.

O bate-boca continuava. E aumentou quando conseguiram, finalmente, entrar no Hansa. Ou no que havia sobrado dele. Uma ruína foi tudo o que encontraram. Tudo deteriorado, embolorado, nada funcionava. A coisa era tão grave, que precisaram mandar trazer toda a estrutura da Inglaterra. Tempo e dinheiro perdidos. E o desespero aumentava. Nada vezes nada. Tentativas vãs. No desespero, Daniel Lanois pegou uma guitarra e tentou improvisar alguma melodia em cima das novas letras, mas no clima errado, soando como Rattle and Hum. "Meu Deus, acabou tudo!", pensou The Edge.

capa do compacto Put 'Em Under Pressure (Ole Ole Ole)Na verdade, o grupo já havia começado a trabalhar em duas frentes separadas ainda mesmo em 1990. Primeiro, foi o baterista Larry Mullen que botou as manguinhas de fora e compôs o hino da Irlanda para a Copa de 1990, na Itália, Put 'Em Under Pressure (Ole Ole Ole).

A música deu sorte, pois a Irlanda só caiu nas quartas-de-final para os anfitriões, após quatro empates consecutivos em um grupo que reunia os favoritos Inglaterra e Holanda. Sobre a participação irlandesa na Copa de 90 há um ótimo filme cômico chamado The Van, que vale a pena ser visto.

capa do disco Red Hot + Blue: A Tribute to Cole PorterA segunda frente era para uma causa mais nobre, a AIDS.

Em novembro de 1990 foi lançado o disco-duplo Red Hot + Blue: A Tribute to Cole Porter, em que vários artistas escolheram uma canção do falecido compositor norte-americano Cole Porter para o projeto, que rendeu, inclusive um belíssimo especial para a televisão.

O U2 acabou optando pela clássica e soturna "Night and Day" e gravaram um estiloso vídeo no apartamento do cineasta Wim Wenders, responsável pela película, em Berlim.

Nessa música, Edge utilizou o recurso da infinite guitar, criada por Michael Brook, quando este fez a trilha-sonora do filme Captive, com o próprio Edge. A idéia consiste em criar um feedback constante assim que uma corda é tocada. Esse recurso já havia sido usado em "With Or Without You".

Bono conta que quase morreu congelado durante as filmagens do vídeo, pois Wender o colocou cantando na saca de seu prédio apenas com um paletó, aberto e sem camisa alguma por baixo em uma gélida noite.

Apesar de serem a banda mais famosa do disco, não coube ao U2 ter a primazia de ser a primeira música de trabalho do projeto. A escolhida foi a versão de "I've Got You Under My Skin", de Neneh Cherry.

Eis a lista de quem participou do disco e quais músicas cantaram:

1. I've Got You Under My Skin - Neneh Cherry
2. In The Still Of The Night - Neville Brothers
3. You Do Something To Me - Sinéad O'Connor
4. Begin The Beguine - Salif Keita
5. Love For Sale - Fine Young Cannibals
6. Well, Did you Evah! - Debbie Harry/Iggy Pop
7. Miss Otis Regrets/Just One Of Those Things - Kirsty Maccoll & The Pogues
8. Don't Fence Me In - David Byrne
9. It's All Right With Me - Tom Waits
10. Ev'ry Time We Say Goodbye - Annie Lennox
11. Night And Day - U2
12. I Love Paris - Les Negresses Vertes
13. So In Love - k.d. lang
14. Who Wants To Be A Millionaire? - The Thompson Twins
15. Too Darn Hot - Erasure
16. I Get A Kick Out Of You - The Jungle Brothers
17. Down In The Depths - Lisa Stansfield
18. From This Momment On - Jimmy Somerville
19. After You - Jody Watley
20. Do I Love You? - Aztec Camera

2 - Brian Eno dá uma mãozinha aos desesperados...

A estadia em Berlim começou a render alguma coisa e a banda, aos poucos, ia concatenando idéias. E a chegada de Brian Eno foi providencial para tudo isso.

Eno foi chamado quando tudo era nebuloso. Colaborador do U2 desde 1984, foi ele quem havia trazido Daniel Lanois, que havia se tornado um "quinto membro não-oficial do U2".

Mas Lanois estava perdido, especialmente por causa do racha Bono/Edge x Larry/Adam. The Edge, que era sua grande conexão dentro da banda, estava ressentido com o produtor e essa mágoa demorou ainda um longo tempo para se dissipar.

"Eno é a pessoa com que Bono e Edge conseguem se conectar, porque ele não é fiel por muito tempo a uma filosofia", explicou Adam. "Se você quer algo diferente ele apenas diz 'então vamos agir dessa maneira'. É totalmente o oposto de Lanois que diz 'ok, vocês querem soar assim, mas eu sou um produtor que trabalho assim e vocês fazem dessa maneira devemos tentar o que já fizemos antes", finalizou o baixista.

Tudo começou a clicar em uma noite em que estavam brigando com a canção "Ultra Violet". Enquanto Edge tentava ajeitar a melodia, Bono começou a cantar uma linha que estava na sua cabeça: "We're one but we're not the same - we get to carry each other, carry each other". Nada menos do que o refrão de "One", que nasceu quase ao acaso.

Em 10 minutos, a canção tomava forma e o grupo saiu do estúdio satisfeito, após uma dura noite de trabalho. Estavam progredindo.

Adam diz que a banda possui uma maneira peculiar de trabalhar: "geralmente gastamos 90% do nosso tempo em 30% do álbum e os outros 70% surgem incrivelmente rápido."

Essa maneira caótica, em parte, acontece porque Bono sempre deixa as letras para serem escritas quando ele deve colocar a voz nas canções.

Após isso e gravar mais algumas demos, o grupo resolve voltar para Dublin e retornar à Alemanha no final de janeiro de 1991.

3 - Imagem é tudo

No Natal de 1990, os quatro sentaram para ouvir as demos e perceberam que tinham feito coisas boas e que muito trabalho os esperava.

Em janeiro voltaram para Dublin, no exato momento em que o Iraque invadiu o Kwait. Via CNN, os integrantes viam a Guerra do Golfo estourando. Bono estava fascinado com o poder da televisão e queria saber se seria possível transportar essa nova realidade para o disco e show.

Durante os trabalhos em Berlim, Bono começou a pensar no que queria. Sua idéia era de ter um disco que soasse pesado, com elementos de eletrônica, com a bateria de Larry sobressaindo-se. Um disco com muito ritmo, já que segundo o cantor, "o ritmo é o sexo da música".

Em um dia de folga, o vocalista levou todo mundo para o zoo de Berlim para falar sobre uma idéia. Ele queria que o zoo retratasse a nova realidade, na qual os homens vivem feitos animais encarcerados no mundo digital. E Bono queria saber como manipular imagens ao vivo em um show, com uma tela gigantesca, controle remoto, etc. Uma senhora idéia e um senhor problema.

Mas os tempos também eram duros. The Edge estava deixando sua esposa Aislinn. Há quem jure que parte dessas agruras estão em "So Cruel". A banda nega.

Perdido, pediu refúgio para Adam Clayton, único solteiro entre os quatro e, teoricamente, a pessoa mais distante dele no U2. "Eu realmente nunca fui muito próximo a Adam e fiquei muito grato quando ele me recebeu de braços abertos."

O grupo acabou trazendo Daniel Lanois, Eno, Flood e Steve Lillywhite para produzirem e mixarem as músicas. Cada um deles mixou uma música de certa maneira para que escolhessem quais faixas soavam melhor. O que o U2 fez foi cruel: escolhiam partes das várias mixagens e pediam para que fossem colocadas juntas.

E havia uma parte muito importante: o visual. Estava claro que eles não podiam se vestir mais como nos anos 80. Em uma passagem que até virou piada entre eles, Bono se lembra quando foram assistir um show de Frank Sinatra, em Las Vegas.

Sinatra parou o show para saudar a "maior banda de rock do mundo da atualidade". Quando viu os quatro se levantarem e vestidos como mendigos, lascou: "tão ricos e não gastam um centavo em roupas!"

Por isso, era importante uma aparada geral. Primeiro, Bono cortou o cabelo e o deixou preto. Adam e Edge também passaram por transformações.

O baixista deixou um visual mais moderno, Edge cortou bem curto e manteve um cavanhaque.

Larry valorizou mais o físico e também deixou seu corte mais atual. Além disso, as roupas antigas teriam que ir, literalmente, pro lixo.

Em uma entrevista à MTV em 1991, Bono confessa que havia se recordado da bronca de Sinatra e disse que queria ver alguém ridicularizar agora o U2 em termos visuais.

Mas era necessário, também se reinventar. Quando o responsável pelos vestuários, Fintan Fitzgerald, arranjou um óculos escuros em uma loja de segunda mão, Bono o adorou. Seria o famoso óculos de "mosca" que seria copiado zilhões de vezes. E Bono resolveu que seria sua cara, a partir de então. "Oscar Wilde dizia que se você quer saber a verdadeira face de uma pessoa, deve dar uma máscara a ele", explicou o cantor porque adotaria tal posição.

Mas isso não era tudo. Bono iria usar ternos de couro preto, como Jim Morrison, Iggy Pop e Elvis Presley haviam feito anteriormente. E havia a atitude: nada mais de bons moços, quase santos.

Bono começaria a ostentar ironia nas entrevistas, andando com garrafas de bebidas e charutos na boca, para tristeza do seu pai. "Parei de fumar há mais de 20 anos e nunca meus dois filhos fumaram. Vendo Paul - se recusa a chamá-lo pelo nome artístico - fazendo essas coisas fico triste porque é um péssimo hábito e os fãs irão imitá-lo".

E Bono dizia mais: "se nossos antigos fãs não aceitarem nossas mudanças é porque não evoluíram e o U2 não precisa deles mais. Os anos 80 morreram, estamos olhando pra frente". Bem arrogante, não?

4 - Dinheiro, muito dinheiro e disco pirata

Durante as gravações, dois acontecimentos chacoalharam ainda mais o grupo: a compra da Island pela Polygram por US$ 300 milhões e o vazamento de algumas músicas que resultou num disco pirata.

Vamos por partes. Quando a Polygram comprou todo o catálogo da Island, a gravadora só tinha um grande nome vivo, o U2. Por isso, significava que o U2 estava ainda mais rico. Na verdade, o U2 teve uma grande sorte em tudo isso.

Em 1986, durante as gravações de The Joshua Tree, Paul McGuinness recebeu um telefonema que o gelou até a alma: a Island estava falida e não tinha como saldar a dívida de US$ 5 milhões com o grupo. Pior: havia grande chance de ser vendida e por tabela, o contrato do U2 entraria nessa.

A Island havia sido uma grande parceira da banda desde o início, dando total autonomia ao grupo. McGuinness não tinha coragem de dizer isso aos seus rapazes. Por isso, sugeriu um acordo à Island: eles não precisavam saldar agora a dívida e o U2 ainda emprestaria algum dinheiro para se reerguerem. Em troca, eles teriam posse das fitas masters e uma parte da empresa.

Ter as fitas masters significa total liberdade e grana, pois se a banda fosse para uma outra gravadora, levaria tudo que já haviam feito pela Island, consigo. Em outras palavras; eles eram donos de si, um feito raríssimo no meio musical. E também receberam de 10 a 15% dos direitos da gravadora. Isso quer dizer que dos US$ 300 milhões recebidos da Polygram, o grupo abocanhou algo entre US$30 e 45 milhões. Um baita negócio.

E como a Polygram era pertencente à Phillips, líder no mercado de televisores, todos acharam que seria mais fácil conseguir tecnologia para o que queriam em cima de um palco.

capa do disco pirata Salome: The [Axtung Beibi] OuttakesE o pirata? Bom, uma longa história: Paul McGuinness ficou desesperado quando soube que havia um disco-duplo chamado The New U2: Rehearsals and Full Versions circulando livremente, com canções chamadas "Sugar Cane". Apesar da ameaça de processo, o disco continuou circulando pelo mundo e novembro de 1991, era uma caixa de 5 cds. Em 1992, virou um CD triplo intitulado Salome: The [Axtung Beibi] Outtakes e continha as seguintes músicas:

Disc 1:
Salome (Version 1) (5:57)
Where Did it All Go Wrong (Version 1) (4:03)
Where Did it All Go Wrong (Version 2) (3:42)
Heaven and Hell (6:44)
Doctor Doctor (2:35)
Jitterbug Baby (3:55)
Got to Get Together (9:14)
Salome (Version 2) (5:28)
Here Comes The Sunset/Chances Away (14:57)
Chances Away (Short Segment) (1:40)
I Feel Free (Version 1) (6:35)

Disc 2:
I Feel Free (Version 2) (4:31)
Sweet Baby Jane (2:02)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 1) (5:35)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 2) (4:00)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 3) (4:09)
Take Today (Instrumental) (5:31)
Even Better Than The Real Thing (Instrumental) (6:29)
Blow Your House Down (Version 1) (4:51)
Blow Your House Down (Version 2) (7:44)
Laughing In the Face of Love/So Cruel (Version 1) (7:38)
Wake Up Dead Man/Blow Your House Down (Version 1) (5:33)
Take Today (Vocals) (6:32)

Disc 3:
Calling Out to Someone (1:05)
Laughing In the Face of Love/So Cruel (Version 2) (3:11)
Acrobat (4:19)
Salome (Version 3) (5:56)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 4) (5:09)
Wake Up Dead Man (Mix Version) (5:16)
Unnamed Instrumental (5:35)
Salome (Version 4) (3:50)
Salome (Version 5) (13:06)
Salome (Version 6) (5:58)
Salome (Version 7) (8:04)
U2 - Salome BootlegSalome (Version 8) (12:03)

Bono se mostrou chateado como o ocorrido e deu sua visão: "o que me irrita é que cobram um monte de grana por algo ruim. Esse disco foi pirateado em Berlim e me senti invadido, como se estivessem lendo meu caderno de notas. Não há nada desse papo de descobrir o trabalho de um 'gênio'. É apenas uma invasão horrível."

5 - Achtung Baby

capa do disco Acthung BabyNo dia 7 de julho, Bono foi pai pela segunda vez, ao nascer Memphis Eve. Em novembro, a banda deu um outro presente ao mundo: Achtung Baby.

O disco foi um avassalador sucesso, indo diretamente ao topo da parada na América e na Europa. Críticos elogiavam a coragem da banda em resgatar suas raízes européias e na proposta de se reinventarem. Um clássico!

O disco trazia uma capa cheia de fotos feitas pelo fotógrafo Anton Corbijn. A capa, aliás, foi motivo de confusão.

O grupo queria batizar o disco de Adam, uma brincadeira com o baixista e com o primeiro homem bíblico e por isso Adam tirou uma foto de nu frontal. Anton odiou e disse que jamais colocaria a foto na capa, mas enfim, o disco não era seu mesmo e ele era apenas um fotógrafo. Ao invés disso, acabaram adotando um nome com o qual o engenheiro de som da banda, Joe O'Herlihy, berrava durante as gravações. A foto de Adam acabou sendo aproveitada, mas na contra-capa e em tamanho menor.

O disco, aliás, foi um choque. Desde a abertura, com "Zoo Station", cheia de feedback e vocais fantasmagóricos até o encerramento com a lenta e climática "Love Is Blindness", o disco trazia clássicos como "Mysterious Ways", "Even Better Than The Real Thing", "The Fly", "Until the End of the World", "So Cruel", "Tryin' to Throw Your Arms Around the World", "Who's Gonna Ride Your Wild Horses", e "One".

capa do compacto The Fly"Adam tem o menor pênis da banda", brincava Bono nas coletivas, mostrando uma faceta totalmente irônica para a mídia. O disco foi precedido de um single estonteante e supreendente: The Fly.

Uma canção totalmente diferente dos anos de Rattle and Hum, cheia de distorção, vocais trabalhados e uma bateria potente e industrial conduzida por Larry e um baixo pulsante de Adam, além de impecável presença de Edge. E conseguiu ainda o primeiro lugar nas paradas.

capa do compacto Mysterious WaysBasicamente a letra falava da Queda de Adão e Eva. Vale ressaltar o belíssimo inusitado vídeo e o aparecimento do personagem "The Fly". Bono não só seguia os passos de seu ídolo Bowie, gravando em Berlim, como criava seu primeiro personagem, imitando o eterno camaleão dos anos 70.

O segundo single veio no mesmo mês e é uma outra canção estonteante: Mysterious Ways.

Uma canção leve, e teve o vídeo gravado no Marrocos e mostra Bono usando uma camisa rosa, cheia de babados, e uma dançarina do ventre. Chegou à 13ª posição no Reino Unido e em 9º lugar na América.

"One" é um caso especial. Eleita a música da década por várias revistas, é uma letra com inúmeras interpretações: há quem considere apenas uma linda letra de amor; há quem considere uma letra de ódio. Bono disse que a letra poderia significar um fictício diálogo entre Judas e Jesus Cristo, como também uma conversa entre um filho aidético pedindo ajuda ao pai. Em todos os casos, um dos momentos mais pungentes da carreira do grupo. O compacto foi lançado apenas em fevereiro de 1992.

O U2 estava vivo e entrava 1992 com tudo, começando uma gigantesca turnê, que revolucionaria o mundo dos espetáculos e cravando vários sucessos na parada. A maior banda dos anos 80 mostrava que ainda dava as cartas no início dos anos 90.

Mas isso é papo para outra coluna. E, antes que me escrevam perguntando, deverá surgir daqui algumas semanas. Um abraço!

 

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