Há uma coluna que está
sendo adiada há meses. Mas essa vem essa adiada há
mais de dois anos. Nesse período, muita coisa aconteceu
e a banda veio ao Brasil e subiu em um trio elétrico com
a Ivete Sangalo, o que muito me desgostou. Nem ouvi ainda seu
último disco de estúdio. Porém, resolvi voltar
a escrever sobre o U2 e reiniciar o trabalho de falar sobre a
banda. Há até quem me acuse de não gostar
dessa fase, só do anos 80. Tantos e-mails chegaram e poucos
compreendem minha relação com o grupo. Enfim...
chega de confissão, até porque sou ateu. U2 voltou.
E volta na véspera do 47º aniversário de Bono!
1
- Start All Over Again
O sucesso, ah, o sucesso...
-
É isso que chamam de sucesso, Bono? Pois então,
eu não quero mais isso, cara. Encheu!
A resposta de Larry Mullen
mostrava bem o estado de espírito dos integrantes. Eles
estavam simplesmente exauridos do frenesi dos anos 80 e da experiência
americana com Rattle and Hum.
A banda mais importante
dos anos 80 havia se tornado a mais ridicularizada. Suas músicas
ganhavam versões de grupos dance, Bono era ridicularizado
por causa do seu visual cowboy e sua pretensão
em ensinar rock and roll para o mundo. Existia até uma
piada corrosiva sobre sua personalidade: "sabe como Bono
troca uma lâmpada? Ele sobe numa cadeira, a segura e o mundo
gira em sua volta até ela sair."
Por tudo isso, o grupo
resolveu que aquilo não daria mais. Não havia como
continuar aquilo. O próprio vocalista admitiu sua insatisfação
em uma entrevista futura: "tudo estava tão errado
que havíamos tornado uma banda cover de nós mesmos.
Lembro-me de um show nosso. Estávamos tão cheios,
que resolvemos tocar o set-list do final pro começo,
só para quebrar a monotonia. E não fez diferença
alguma."
Larry relembra a dor que
sentia ao levantar de amanhã e ter que cumprir uma rotina
estressante: "eu não agüentava mais falar do
filme, de minha paixão por Elvis. Cara, eu nem conseguia
mais me olhar no espelho! Eu havia resolvido sair do grupo, mas
só não fiz isso porque gostava muito de tudo. Mas
não suportava mais um show."
E agora, o que faria a
maior banda do mundo? Bom, alguns trechos eu citarei o livro
de Bill Flanagan, U2 at the End of the World,
outras vezes algumas matérias de revistas, televisão
e até puxarei pela memória, por isso a mera lembrança
não é plágio...
Conta Bill Flanagan, que
o U2 resolveu sacudir as traças, em Berlim, no outono de
1990. Bono conduziu banda e todo seu staff para ensaiarem
novas composições no legendário estúdio
Hansa, onde Bowie, Lou Reed, Iggy Pop e tanta gente gravaram discos
históricos.
As brigas começaram
logo cedo. Após não terem lugar algum para ficarem,
os quatro ficaram jogados em um hotel barato da cidade, que celebrava
a entrada nos anos 90 com a Queda do Muro de Berlim.
Mas
nada funcionava e os quatro começaram a bater boca. Edge
e Bono acusavam Larry e Adam de não fazerem suas lições
de casa e os dois rebatiam que não havia lição
porque os dois não tinham escrito uma só linha aproveitável.
Houve então um tremendo bate-boca do que eles buscavam.
Irritado, Bono disse que queria fazer algo na linha Madchester,
modernizar o som. Adam exasperou-se. Amante das bandas dance,
mandou Bono calar a boca porque a cena inglesa já era passado.
Bono disse que ele era um preguiçoso e que não praticava
seu instrumento. Adam pegou o baixo, deu a ele e disse: "tome,
me mostre uma nova canção. Uma só, e eu trabalharei
em cima dele." O cantor, calou-se.
O bate-boca continuava.
E aumentou quando conseguiram, finalmente, entrar no Hansa. Ou
no que havia sobrado dele. Uma ruína foi tudo o que encontraram.
Tudo deteriorado, embolorado, nada funcionava. A coisa era tão
grave, que precisaram mandar trazer toda a estrutura da Inglaterra.
Tempo e dinheiro perdidos. E o desespero aumentava. Nada vezes
nada. Tentativas vãs. No desespero, Daniel Lanois pegou
uma guitarra e tentou improvisar alguma melodia em cima das novas
letras, mas no clima errado, soando como Rattle and Hum.
"Meu Deus, acabou tudo!", pensou The Edge.
Na
verdade, o grupo já havia começado a trabalhar em
duas frentes separadas ainda mesmo em 1990. Primeiro, foi o baterista
Larry Mullen que botou as manguinhas de fora e compôs o
hino da Irlanda para a Copa de 1990, na Itália, Put
'Em Under Pressure (Ole Ole Ole).
A música deu sorte,
pois a Irlanda só caiu nas quartas-de-final para os anfitriões,
após quatro empates consecutivos em um grupo que reunia
os favoritos Inglaterra e Holanda. Sobre a participação
irlandesa na Copa de 90 há um ótimo filme cômico
chamado The Van, que vale a pena ser visto.
A
segunda frente era para uma causa mais nobre, a AIDS.
Em novembro de 1990 foi
lançado o disco-duplo Red Hot + Blue: A Tribute
to Cole Porter, em que vários artistas escolheram
uma canção do falecido compositor norte-americano
Cole Porter para o projeto, que rendeu, inclusive um belíssimo
especial para a televisão.
O U2 acabou optando pela
clássica e soturna "Night and Day" e gravaram
um estiloso vídeo no apartamento do cineasta Wim Wenders,
responsável pela película, em Berlim.
Nessa música, Edge
utilizou o recurso da infinite guitar, criada por Michael
Brook, quando este fez a trilha-sonora do filme Captive,
com o próprio Edge. A idéia consiste em criar um
feedback constante assim que uma corda é tocada.
Esse recurso já havia sido usado em "With Or Without
You".
Bono conta que quase morreu
congelado durante as filmagens do vídeo, pois Wender o
colocou cantando na saca de seu prédio apenas com um paletó,
aberto e sem camisa alguma por baixo em uma gélida noite.
Apesar de serem a banda
mais famosa do disco, não coube ao U2 ter a primazia de
ser a primeira música de trabalho do projeto. A escolhida
foi a versão de "I've Got You Under My Skin",
de Neneh Cherry.
Eis a lista de quem participou
do disco e quais músicas cantaram:
1. I've Got You Under My
Skin - Neneh Cherry
2. In The Still Of The Night - Neville Brothers
3. You Do Something To Me - Sinéad O'Connor
4. Begin The Beguine - Salif Keita
5. Love For Sale - Fine Young Cannibals
6. Well, Did you Evah! - Debbie Harry/Iggy Pop
7. Miss Otis Regrets/Just One Of Those Things - Kirsty
Maccoll & The Pogues
8. Don't Fence Me In - David Byrne
9. It's All Right With Me - Tom Waits
10. Ev'ry Time We Say Goodbye - Annie Lennox
11. Night And Day - U2
12. I Love Paris - Les Negresses Vertes
13. So In Love - k.d. lang
14. Who Wants To Be A Millionaire? - The Thompson Twins
15. Too Darn Hot - Erasure
16. I Get A Kick Out Of You - The Jungle Brothers
17. Down In The Depths - Lisa Stansfield
18. From This Momment On - Jimmy Somerville
19. After You - Jody Watley
20. Do I Love You? - Aztec Camera
2 - Brian Eno dá
uma mãozinha aos desesperados...
A estadia em Berlim começou
a render alguma coisa e a banda, aos poucos, ia concatenando idéias.
E a chegada de Brian Eno foi providencial para tudo isso.
Eno
foi chamado quando tudo era nebuloso. Colaborador do U2 desde
1984, foi ele quem havia trazido Daniel Lanois, que havia se tornado
um "quinto membro não-oficial do U2".
Mas Lanois estava perdido,
especialmente por causa do racha Bono/Edge x Larry/Adam. The Edge,
que era sua grande conexão dentro da banda, estava ressentido
com o produtor e essa mágoa demorou ainda um longo tempo
para se dissipar.
"Eno é a pessoa
com que Bono e Edge conseguem se conectar, porque ele não
é fiel por muito tempo a uma filosofia", explicou
Adam. "Se você quer algo diferente ele apenas diz 'então
vamos agir dessa maneira'. É totalmente o oposto de Lanois
que diz 'ok, vocês querem soar assim, mas eu sou um produtor
que trabalho assim e vocês fazem dessa maneira devemos tentar
o que já fizemos antes", finalizou o baixista.
Tudo começou a clicar
em uma noite em que estavam brigando com a canção
"Ultra Violet". Enquanto Edge tentava ajeitar a melodia,
Bono começou a cantar uma linha que estava na sua cabeça:
"We're one but we're not the same - we get to carry each
other, carry each other". Nada menos do que o refrão
de "One", que nasceu quase ao acaso.
Em 10 minutos, a canção
tomava forma e o grupo saiu do estúdio satisfeito, após
uma dura noite de trabalho. Estavam progredindo.
Adam diz que a banda possui
uma maneira peculiar de trabalhar: "geralmente gastamos 90%
do nosso tempo em 30% do álbum e os outros 70% surgem incrivelmente
rápido."
Essa maneira caótica,
em parte, acontece porque Bono sempre deixa as letras para serem
escritas quando ele deve colocar a voz nas canções.
Após isso e gravar
mais algumas demos, o grupo resolve voltar para Dublin e retornar
à Alemanha no final de janeiro de 1991.
3 - Imagem é
tudo
No
Natal de 1990, os quatro sentaram para ouvir as demos e perceberam
que tinham feito coisas boas e que muito trabalho os esperava.
Em janeiro voltaram para
Dublin, no exato momento em que o Iraque invadiu o Kwait. Via
CNN, os integrantes viam a Guerra do Golfo estourando. Bono estava
fascinado com o poder da televisão e queria saber se seria
possível transportar essa nova realidade para o disco e
show.
Durante os trabalhos em
Berlim, Bono começou a pensar no que queria. Sua idéia
era de ter um disco que soasse pesado, com elementos de eletrônica,
com a bateria de Larry sobressaindo-se. Um disco com muito ritmo,
já que segundo o cantor, "o ritmo é o sexo
da música".
Em um dia de folga, o vocalista
levou todo mundo para o zoo de Berlim para falar sobre uma idéia.
Ele queria que o zoo retratasse a nova realidade, na qual os homens
vivem feitos animais encarcerados no mundo digital. E Bono queria
saber como manipular imagens ao vivo em um show, com uma tela
gigantesca, controle remoto, etc. Uma senhora idéia e um
senhor problema.
Mas os tempos também
eram duros. The Edge estava deixando sua esposa Aislinn. Há
quem jure que parte dessas agruras estão em "So Cruel".
A banda nega.
Perdido, pediu refúgio
para Adam Clayton, único solteiro entre os quatro e, teoricamente,
a pessoa mais distante dele no U2. "Eu realmente nunca fui
muito próximo a Adam e fiquei muito grato quando ele me
recebeu de braços abertos."
O grupo acabou trazendo
Daniel Lanois, Eno, Flood e Steve Lillywhite para produzirem e
mixarem as músicas. Cada um deles mixou uma música
de certa maneira para que escolhessem quais faixas soavam melhor.
O que o U2 fez foi cruel: escolhiam partes das várias mixagens
e pediam para que fossem colocadas juntas.
E havia uma parte muito
importante: o visual. Estava claro que eles não podiam
se vestir mais como nos anos 80. Em uma passagem que até
virou piada entre eles, Bono se lembra quando foram assistir um
show de Frank Sinatra, em Las Vegas.
Sinatra parou o show para
saudar a "maior banda de rock do mundo da atualidade".
Quando viu os quatro se levantarem e vestidos como mendigos, lascou:
"tão ricos e não gastam um centavo em roupas!"
Por
isso, era importante uma aparada geral. Primeiro, Bono cortou
o cabelo e o deixou preto. Adam e Edge também passaram
por transformações.
O baixista deixou um visual
mais moderno, Edge cortou bem curto e manteve um cavanhaque.
Larry valorizou mais o
físico e também deixou seu corte mais atual. Além
disso, as roupas antigas teriam que ir, literalmente, pro lixo.
Em uma entrevista à
MTV em 1991, Bono confessa que havia se recordado da bronca de
Sinatra e disse que queria ver alguém ridicularizar agora
o U2 em termos visuais.
Mas
era necessário, também se reinventar. Quando o responsável
pelos vestuários, Fintan Fitzgerald, arranjou um óculos
escuros em uma loja de segunda mão, Bono o adorou. Seria
o famoso óculos de "mosca" que seria copiado
zilhões de vezes. E Bono resolveu que seria sua cara, a
partir de então. "Oscar Wilde dizia que se você
quer saber a verdadeira face de uma pessoa, deve dar uma máscara
a ele", explicou o cantor porque adotaria tal posição.
Mas isso não era
tudo. Bono iria usar ternos de couro preto, como Jim Morrison,
Iggy Pop e Elvis Presley haviam feito anteriormente. E havia a
atitude: nada mais de bons moços, quase santos.
Bono começaria a
ostentar ironia nas entrevistas, andando com garrafas de bebidas
e charutos na boca, para tristeza do seu pai. "Parei de fumar
há mais de 20 anos e nunca meus dois filhos fumaram. Vendo
Paul - se recusa a chamá-lo pelo nome artístico
- fazendo essas coisas fico triste porque é um péssimo
hábito e os fãs irão imitá-lo".
E Bono dizia mais: "se
nossos antigos fãs não aceitarem nossas mudanças
é porque não evoluíram e o U2 não
precisa deles mais. Os anos 80 morreram, estamos olhando pra frente".
Bem arrogante, não?
4 - Dinheiro, muito
dinheiro e disco pirata
Durante as gravações,
dois acontecimentos chacoalharam ainda mais o grupo: a compra
da Island pela Polygram por US$ 300 milhões e o vazamento
de algumas músicas que resultou num disco pirata.
Vamos por partes. Quando
a Polygram comprou todo o catálogo da Island, a gravadora
só tinha um grande nome vivo, o U2. Por isso, significava
que o U2 estava ainda mais rico. Na verdade, o U2 teve uma grande
sorte em tudo isso.
Em
1986, durante as gravações de The Joshua
Tree, Paul McGuinness recebeu um telefonema que o gelou
até a alma: a Island estava falida e não tinha como
saldar a dívida de US$ 5 milhões com o grupo. Pior:
havia grande chance de ser vendida e por tabela, o contrato do
U2 entraria nessa.
A Island havia sido uma
grande parceira da banda desde o início, dando total autonomia
ao grupo. McGuinness não tinha coragem de dizer isso aos
seus rapazes. Por isso, sugeriu um acordo à Island: eles
não precisavam saldar agora a dívida e o U2 ainda
emprestaria algum dinheiro para se reerguerem. Em troca, eles
teriam posse das fitas masters e uma parte da empresa.
Ter as fitas masters
significa total liberdade e grana, pois se a banda fosse para
uma outra gravadora, levaria tudo que já haviam feito pela
Island, consigo. Em outras palavras; eles eram donos de si, um
feito raríssimo no meio musical. E também receberam
de 10 a 15% dos direitos da gravadora. Isso quer dizer que dos
US$ 300 milhões recebidos da Polygram, o grupo abocanhou
algo entre US$30 e 45 milhões. Um baita negócio.
E como a Polygram era pertencente
à Phillips, líder no mercado de televisores, todos
acharam que seria mais fácil conseguir tecnologia para
o que queriam em cima de um palco.
E
o pirata? Bom, uma longa história: Paul McGuinness ficou
desesperado quando soube que havia um disco-duplo chamado The
New U2: Rehearsals and Full Versions circulando livremente,
com canções chamadas "Sugar Cane". Apesar
da ameaça de processo, o disco continuou circulando pelo
mundo e novembro de 1991, era uma caixa de 5 cds. Em 1992, virou
um CD triplo intitulado Salome: The [Axtung Beibi] Outtakes
e continha as seguintes músicas:
Disc 1:
Salome (Version 1) (5:57)
Where Did it All Go Wrong (Version 1) (4:03)
Where Did it All Go Wrong (Version 2) (3:42)
Heaven and Hell (6:44)
Doctor Doctor (2:35)
Jitterbug Baby (3:55)
Got to Get Together (9:14)
Salome (Version 2) (5:28)
Here Comes The Sunset/Chances Away (14:57)
Chances Away (Short Segment) (1:40)
I Feel Free (Version 1) (6:35)
Disc 2:
I Feel Free (Version 2) (4:31)
Sweet Baby Jane (2:02)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 1) (5:35)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 2) (4:00)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 3) (4:09)
Take Today (Instrumental) (5:31)
Even Better Than The Real Thing (Instrumental) (6:29)
Blow Your House Down (Version 1) (4:51)
Blow Your House Down (Version 2) (7:44)
Laughing In the Face of Love/So Cruel (Version 1) (7:38)
Wake Up Dead Man/Blow Your House Down (Version 1) (5:33)
Take Today (Vocals) (6:32)
Disc 3:
Calling Out to Someone (1:05)
Laughing In the Face of Love/So Cruel (Version 2) (3:11)
Acrobat (4:19)
Salome (Version 3) (5:56)
Who's Gonna Ride Your Wild Horses (Version 4) (5:09)
Wake Up Dead Man (Mix Version) (5:16)
Unnamed Instrumental (5:35)
Salome (Version 4) (3:50)
Salome (Version 5) (13:06)
Salome (Version 6) (5:58)
Salome (Version 7) (8:04)
U2 - Salome BootlegSalome (Version 8) (12:03)
Bono se mostrou chateado
como o ocorrido e deu sua visão: "o que me irrita
é que cobram um monte de grana por algo ruim. Esse disco
foi pirateado em Berlim e me senti invadido, como se estivessem
lendo meu caderno de notas. Não há nada desse papo
de descobrir o trabalho de um 'gênio'. É apenas uma
invasão horrível."
5 - Achtung Baby
No
dia 7 de julho, Bono foi pai pela segunda vez, ao nascer Memphis
Eve. Em novembro, a banda deu um outro presente ao mundo: Achtung
Baby.
O disco foi um avassalador
sucesso, indo diretamente ao topo da parada na América
e na Europa. Críticos elogiavam a coragem da banda em resgatar
suas raízes européias e na proposta de se reinventarem.
Um clássico!
O disco trazia uma capa
cheia de fotos feitas pelo fotógrafo Anton Corbijn. A capa,
aliás, foi motivo de confusão.
O grupo queria batizar
o disco de Adam, uma brincadeira com o baixista
e com o primeiro homem bíblico e por isso Adam tirou uma
foto de nu frontal. Anton odiou e disse que jamais colocaria a
foto na capa, mas enfim, o disco não era seu mesmo e ele
era apenas um fotógrafo. Ao invés disso, acabaram
adotando um nome com o qual o engenheiro de som da banda, Joe
O'Herlihy, berrava durante as gravações. A foto
de Adam acabou sendo aproveitada, mas na contra-capa e em tamanho
menor.
O disco, aliás,
foi um choque. Desde a abertura, com "Zoo Station",
cheia de feedback e vocais fantasmagóricos até o
encerramento com a lenta e climática "Love Is Blindness",
o disco trazia clássicos como "Mysterious Ways",
"Even Better Than The Real Thing", "The Fly",
"Until the End of the World", "So Cruel",
"Tryin' to Throw Your Arms Around the World", "Who's
Gonna Ride Your Wild Horses", e "One".
"Adam
tem o menor pênis da banda", brincava Bono nas coletivas,
mostrando uma faceta totalmente irônica para a mídia.
O disco foi precedido de um single estonteante e supreendente:
The Fly.
Uma canção
totalmente diferente dos anos de Rattle and Hum,
cheia de distorção, vocais trabalhados e uma bateria
potente e industrial conduzida por Larry e um baixo pulsante de
Adam, além de impecável presença de Edge.
E conseguiu ainda o primeiro lugar nas paradas.
Basicamente
a letra falava da Queda de Adão e Eva. Vale ressaltar o
belíssimo inusitado vídeo e o aparecimento do personagem
"The Fly". Bono não só seguia os passos
de seu ídolo Bowie, gravando em Berlim, como criava seu
primeiro personagem, imitando o eterno camaleão dos anos
70.
O segundo single veio no
mesmo mês e é uma outra canção estonteante:
Mysterious Ways.
Uma canção
leve, e teve o vídeo gravado no Marrocos e mostra Bono
usando uma camisa rosa, cheia de babados, e uma dançarina
do ventre. Chegou à 13ª posição no Reino
Unido e em 9º lugar na América.
"One"
é um caso especial. Eleita a música da década
por várias revistas, é uma letra com inúmeras
interpretações: há quem considere apenas
uma linda letra de amor; há quem considere uma letra de
ódio. Bono disse que a letra poderia significar um fictício
diálogo entre Judas e Jesus Cristo, como também
uma conversa entre um filho aidético pedindo ajuda ao pai.
Em todos os casos, um dos momentos mais pungentes da carreira
do grupo. O compacto foi lançado apenas em fevereiro de
1992.
O U2 estava vivo e entrava
1992 com tudo, começando uma gigantesca turnê, que
revolucionaria o mundo dos espetáculos e cravando vários
sucessos na parada. A maior banda dos anos 80 mostrava que ainda
dava as cartas no início dos anos 90.
Mas isso é papo
para outra coluna. E, antes que me escrevam perguntando, deverá
surgir daqui algumas semanas. Um abraço!
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